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domingo, 17 de julho de 2011

DIVERSIDADE E IGUALDADE

Este é um fragmento de um debate acalorado ente um dominicano e um jurista, ambos espanhóis, em 1550, em Valladollid (Espanha):

Lãs Casas:

"Aqueles que pretendem que os índios são bárbaros, responderemos que essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa. (. . .) Esses povos igualavam ou até superavam muitas nações com uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa. ( . . . ) Esses povos igualavam ou até superavam muitas
nações do mundo conhecidas como policiadas e razoáveis, e não eram inferiores a nenhuma delas. Assim, igualavam-se aos gregos e os romanos, e até, em alguns de seus costumes, os superavam. Eles superavam também a Inglaterra, a França, e algumas de nossas regiões da Espanha. (. . .) Pois a maioria dessas nações do mundo, senão todas, foram muito mais pervertidas, irracionais e depravadas, e deram mostra de muito menos prudência e sagacidade em sua forma de se governarem e exercerem as virtudes morais. Nós mesmos fomos piores, no tempo de nossos ancestrais e sobre toda a
extensão de nossa Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação de nossos costumes".

Sepulvera:

"Aqueles que superam os outros em prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em força física, aqueles são, por natureza, os senhores; ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as forças físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos. E é justo e útil que sejam servos, e vemos isso sancionado pela própria lei divina. Tais são as nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E será sempre justo e conforme o direito natural que essas pessoas estejam submetidas ao império de príncipes e
de nações mais cultas e humanas, de modo que, graças à virtude destas e à prudência de suas leis, eles abandonem a barbárie e se conformem a uma vida mais humana c ao culto da virtude. E se cies recusarem esse império, pode-se impô-lo pelo meio das armas e essa guerra será justa, bem como o declara o direito natural que os homens honrados, inteligentes, virtuosos e humanos
dominem aqueles que não têm essas virtudes" (s.n.t.)

Disto infere-se que quem deu autoridade ao outro para se julgar superior somente pela cor da pele, por seus hábitos alimentares, religiosos?

Não se trata apenas de direito à diversidade, é uma obrigação humana respeitar o outro da forma como ele é, desde que o mesmo esteja imbuído de autoridade para ser como deseja ser.

3 comentários:

  1. O próprio processo de colonização que se deu no Brasil foi uma violência contra os nativos desta terra: os índios; aliás, as índias. Elas foram tratadas, simplesmente como objeto sexual para favorecer a rápida expansão populacional da nova colônia.

    ‘’A política constrói o gênero e o gênero constrói a política’’(BIDEGAIN, 1996:27 apud TORRES, 2006:1).

    O erotismo e o desejo carnal como práticas demoníacas e pervertidas das mulheres, ainda tinha fortes ressonâncias no período renascentista. A Igreja se encarregou de estabelecer uma cisão entre a mulher virtuosa e a mulher mundana, exaltando a virgindade dos santos como modelo de virtude e evocando a imagem da Madalena bíblica para representar a mulher mundana. O movimento de mariologia que surgiu na Europa representou uma ofensiva contra a possibilidade de liberação e emancipação da mulher, para dar ênfase à castidade e às virtudes da boa esposa. Mulheres devotas e submissas eram exaltadas e comparadas aos santos e à virgem Maria. As mulheres que não se enquadravam nesses padrões eram vistas como lascivas, tentadoras e venenosas. Os missionários europeus ficaram impactados com a nudez indígena e viram o corpo da mulher índia como diabólico, provocativo e pecaminoso. O padre Antônio Vieira se empenhava para que as índias usassem roupas, fato que o levou a escrever ao rei de Portugal D. João IV solicitando roupas para as filhas, que não poderiam comparecer ao ofício divino porque não tinham roupas para ver a Deus.

    Padre Manoel da Nóbrega, em carta ao seu superior Simão Rodrigues, escrita em 1550, solicitou que Portugal enviasse algumas mulheres prostitutas para distrair os colonos, pois qualquer mulher seria melhor do que uma índia. Em outra carta enviada ao mesmo superior, escrita em 1553, Nóbrega afirma que o pecado só seria evitado depois que chegassem a essa terra mulheres brancas em abundância.

    ‘’Interessante é constatar que as categorias de ‘homem e mulher’ são transmutadas de acordo com as necessidades históricas do momento. ’’(BIDEGAIN, 1996:28 apud TORRES, 2006:3)

    No período colonial, o poder lusitano se viu diante de uma necessidade crucial: povoar a Amazônia com o sangue português e indígena para legitimar e expandir o seu domínio na região. A composição de uma população masculina considerável que pertencia aos diferentes estratos sociais em Portugal, permitiria ao poder local inaugurar o comércio sexual na sociedade colonial. Essa atividade consistia numa política de troca de favores entre o homem branco e as índias. Em troca dos favores sexuais das índias, eles ganhariam reconhecimento e legitimidade naquela sociedade. A Igreja servia de porta de entrada para esta troca de favores, em cujo comércio só era permitida a participação das índias que recebiam o sacramento do batismo.

    O padre Daniel narra que ‘’ foi um dia muito devota, uma moça, pedir com instância ao missionário, que já a batizasse; porque se envergonhava de estar ainda gentia no meio de tantos cristãos (...)’’(DANIEL, 1976:210 apud TORRES, 2006:4).

    Depois de algum tempo, o missionário indagou à moça o que a teria levado àquele gesto, ao que repôs a índia ‘’que aportando àquela missão tantos brancos, tinham com eles boas entradas as mais suas parentas, e que ela era repudiada, e mal vista deles por saberem que ainda estava gentia, pelo que se via como envergonhada com as mais, o que já não lhe sucedia depois de batizada’’(DANIEL, 1976:210-211 apud TORRES, 2006:5).

    A colonização da Amazônia foi uma escravização das nativas. Nunca viram os nativos como seus iguais. Eram diversos, mas 'jamais' iguais!

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  2. Mas de onde vem este ódio dos homens contra as mulheres? Freud afirma que a mulher sente inveja do homem por causa do ‘falus’. Este seria um instrumento divino de poder.

    “Muito antes de a Igreja coibir a sensualidade, religiões de povos antigos estabeleciam, no culto de suas práticas, a adoração de membros ou partes anatômicas do corpo humano. São características as idolatrias, hoje tidas e havidas como imorais, mas que naquele tempo gozavam de grande prestígio e tinham prodigiosa influência sobre os espíritos de elite. O culto de lingham, mito que representa o órgão masculino da propagação da espécie, teve enorme repercussão na Antigüidade. No Industão, no Egito, na Grécia, em Roma, as mulheres traziam a imagem daquele órgão pendurado no pescoço, tal qual hoje conduzem um rosário ou um santo. No Oriente, à porta suntuosa das mesquitas e pagodes, via-se um imenso pênis perfumado com sagrados óleos, para o culto dos fiéis. Como reminiscências simbólicas mas vivas do falus, temos ainda hoje os chamados frades de pedra que já vão desaparecendo com o modernismo das cidades. Em alguns pontos adiantados da Rússia, encontram-se determinados pãezinhos que representam os testículos de São Vito. No século passado ainda se celebrava, na Itália, uma festa fálica em honra a São Cosme e Damião. Sabe-se que o lingham e o nahman índicos __ diz um entendido __ que se apropriam à conjunção indispensável às funções de reprodução, repetem-se no priapo da Grécia e no falus de Roma, reverenciados mitos que, em seu tempo foram alvos de pomposos e memoráveis festejos.” ( PEREIRA DA SILVA, 1968:30-31)

    Partindo deste pressuposto, poder-se-ia afirmar que os homens odeiam as mulheres por causa da ‘Matrix’. Esta é uma palavra latina que quer dizer ‘útero’. As mulheres possuem útero, podem dar a luz a outro ser, produzir leite, que é o primeiro alimento e a maternidade é, segundo Ellis, ou melhor, a gestação é para este autor o período em que a mulher está no auge de sua beleza física.

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  3. Antônio Gramsci escreveu em seus diários a seguinte reflexão:

    ‘’... imagine um naufrágio, e que certo número de pessoas se refugiam num bote para se salvar sem saber onde, quando e depois de quais peripécias efetivamente se salvarão. Antes do naufrágio, como é natural, nenhum dos náufragos pensava em se tornar... náufrago, e portanto menos ainda pensava em ser levado ao ato que os náufragos, em certas condições, podem cometer, como por exemplo o ato de se tornar... antropófagos. Mas, na realidade, trata-se das mesmas pessoas? Entre os dois momentos, aquele no qual a alternativa se apresentava como uma pura hipótese teórica e outro em que a alternativa se apresenta em toda a força da necessidade imediata ocorreram um processo de transformação “molecular’’, embora rápido, no qual as pessoas de antes não são mais as pessoas de depois e não se pode dizer, além do ponto de vista do estado civil e da lei (que por outro lado, pontos de vista respeitáveis e que têm a sua importância) que se trata das mesmas pessoas” (GRAMSCI apud RUIZ, 1998:89).

    Assim como as índias amazonenses, as mocinhas saíam das áreas rurais de Viena e vinha tentar a sorte na idílica cidade dos grandes bailes e memoráveis valsas. As que conseguiam emprego como domésticas levavam uma vida em regime de verdadeira escravidão branca. Às outras não sobrava outro ofício senão o da prostituição. Havia em Viena no fim do século XIX cerca de quarenta mil prostitutas juvenis, com idade variando entre catorze e vinte e um anos. Este número equivalia a dois por cento da população total vienense.

    A discriminação contra amulher coemça no lendário julgamento de Orestes, retratado na Orestéia de Eurípides.

    E vejam os preceitos jurídicos romano-cristãos para as moças:

    "O homem que tomar uma moça, com ou sem seu consentimento, sem antes ter estabelecido um acordo com seus progenitores [...] não terá na resposta da moça nenhuma vantagem dada pelo direito antigo, e a própria moça será
    considerada culpada de cumplicidade no delito. E como muitas vezes a vigilância dos pais é burlada pelos discursos e comportamentos cativantes das nutrizes, que sobre elas [...] recaia a ameaça do seguinte castigo: a abertura de sua boca e de sua garganta, que emitiram sugestões arrasadoras, será fechada com a ingestão de chumbo derretido. Se for verificado o consentimento voluntário da virgem, que
    esta seja punida com a mesma rigidez que seu raptor, e não será concedida imunidade nem às moças que forem raptadas contra sua vontade, pois poderiam ter permanecido em casa até o dia do casamento, e se a porta houver sido arrombada pela audácia do raptor, estas poderiam ter pedido ajuda aos vizinhos
    com seus gritos e se defendido a todo custo. Mas, para estas moças, cominamos uma pena mais leve e ordenamos que sejam deserdadas por seus progenitores [...] Se os progenitores, para quem a vingança pelo crime deveria ser uma
    preocupação particular, mostrarem tolerância e reprimirem sua dor, serão castigados com a deportação. [Lei emanada em 320 d.C.]

    Como afirma o jovem Gramsci, ninguém espera que o navio vá naufragar, e quando isto ocorre muito menos se espera que a ajuda não venha, e quando ela não vem, manda em seu lugar o desespero e a desolação. Entra em cena o instinto de sobrevivência, que nada mais é que o instinto de morte mascarado com uma camada de verniz chamada instinto de vida.

    Quando Constantino acaba com o sistema de poliginia e o nascimento de meninas deixou de ser rentável para o pai, as crianças do sexo feminino eram mortas ou vendidas para a prostituição e tão logo fizessem 5 ou 6 (cinco ou seis) anos de vida já estavam neste ramo.

    E quem quiser defender que é naqueles tempos, vai uma notícia nada agradável. No Camboja, há crianças de até 4 anos servindo nos bordéis para deleite de maníacos sexuais com condições para burlar a lei!

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